Aumenta o hábito de leitura entre jovens brasileiros


Aumenta o hábito de leitura entre jovens brasileiros
Público mais jovem tem procurado ler mais ,apontam pesquisas

Por: Ana Laura Resende
Mayara Pereira
Rayanne Ramalhaes
A leitura é um hábito importante na vida de qualquer pessoa, que traz, inclusive, benefícios como o aprimoramento de vocabulário, dinamização do raciocínio, melhor interpretação e até mesmo interação social. Tudo isso sem mencionar que é a porta de entrada para que seja despertado um maior interesse por conhecimento.


Livros voltados para o público jovem disponível na livraria da Zona Oeste do Rio. Foto: Rayanne Ramalhaes.


O hábito de leitura do brasileiro sempre foi algo regular de maneira geral. Em pesquisa realizada pelo Retratos da Leitura no Brasil, divulgadas em 2016, os dados reunidos apontavam que 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro. Se compararmos à situação atual do país com o resto do mundo, segundo dados da agência Nop World, o Brasil está na 28ª colocação dos países com maior número de leitores. Venezuela, Argentina e México despontam à frente do Brasil, enquanto Índia e China são os líderes do ranking.


Ainda assim, o número de jovens brasileiros interessados na leitura aumentou. Dados reunidos em 2016, durante o 2º Encontro Nacional do Varejo do Livro Infantil e Juvenil, realizado dentro do 13ª Salão Nacional do Livro Infantil e Juvenil, no Rio de Janeiro, apontaram o resultado da pesquisa realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), onde foi levantado que do total de 12 mil títulos novos lançados no país em 2010, cerca de 2,5 mil foram direcionados a crianças e adolescentes. Entre as preferências nacionais desse público, estão autoras já conhecidas como Thalita Rebouças e Paula Pimenta, consagradas com obras voltadas para jovens e adolescentes. Além delas, os livros de youtubers são um novo sucesso no universo literário, com seus seguidores nas redes sociais lotando sessões de autógrafos dos desses novos autores.


A aluna Júlia Pacheco, que se envolveu com a leitura através de projeto dentro da escola e hoje tem mais de 50 livros em sua prateleira. Foto: Rayanne Ramalhes.


O incentivo para essa mudança de hábito pode estar vindo de dentro da escola, onde profissionais estão mais focados em dedicar-se à formação pessoal do aluno. Um bom exemplo disso é a Escola da Inteligência, projeto desenvolvido pelo autor brasileiro Augusto Cury, em que as unidades têm como objetivo desenvolver a educação socioemocional no ambiente escolar. A coordenadora pedagógica da Creche Escola Girassol em Campo Grande, Rosana Martins, conta que a escola aderiu ao projeto do escritor por preocupação com suas crianças. “Surgiu de uma preocupação de trabalharmos o emocional de nossos estudantes”. Rosana assume que para ela o hábito da leitura é tudo. “Sendo leitor, o jovem fala melhor, pensa  criticamente, partilha suas ideias e principalmente tem a possibilidade de mudar sua realidade de vida para melhor”. O colégio não tem somente esse projeto de leitura “ temos o Gira Gira Sol, no qual o aluno escolhe um livro semanalmente para ler em família”


Para a professora Marcia Cristina, há 15 anos trabalhando na rede pública do Estado do Rio de Janeiro e responsável pela sala de leitura na Escola Municipal Ubaldina Dias Jacaré, essa é uma vitória para os educadores. “A gente volta a acreditar no nosso trabalho toda vez que um aluno vem por vontade própria buscar um livro. Os professores incentivam na sala de aula, temos um projeto bimestral de leitura na escola para as aulas de português, mas é gratificante quando vemos que eles buscam por conta própria, que fazem cartão da sala de leitura, que entregam um e já procuram a próxima leitura,” conta Márcia.


Waleska Leite, de 22 anos, voluntária na sala de leitura completa “Entrei aqui por vontade de ajudar o trabalho da minha madrinha, que é diretora da escola, mas acho que encontrei uma gratificação pessoal. Eu estudei aqui, aprendi a ler aqui, é bonito ver quando uma criança lê porque quer, porque gosta.”


Diogo Oliveira nunca criou gosto pela leitura, apesar de afirmar ter sido incentivado pelos pais. O jovem prefere jogos e brinquedos. Foto:Viviane Rodriguez.
O Santa Mônica Centro Educacional desenvolve há alguns anos a leitura de livros para fazer provas nas disciplinas de português e literatura, e para isso a professora de literatura, Mônica Belleza, nos contou um pouco do projeto. “O Santa Mônica trabalha com duas leituras obrigatórias, já tivemos quatro e esse número diminuiu justamente porque a gente percebe que cada vez o aluno lê menos. Trata-se de   uma leitura obrigatória, que tem seu lado bom e lado ruim, o bom é que ele acaba lendo e o lado ruim é que eu associo a uma coisa negativa de ser uma obrigação, e com isso, eu perco a ideia de ler porque gosta, de ler por prazer que é o sonho de todo professor”.  


A professora diz que é contra a leitura não ser de um gênero mais jovem que atrai os adolescentes. “No nosso caso, a gente associa as escolas literárias, então, a gente acaba só lendo os clássicos, o que já é outra dificuldade, porque eu não consigo usar uma literatura pela qual eles se interessam, essa coisa dos youtubers, dos filmes, Nicolas Sparks também é um queridíssimo que a gente não pode usar, isso eu sou contra, eu acho que a escola poderia estar se abrindo mais para uma literatura que eu pudesse por exemplo usar Nicolas Sparks como Romantismo, mostrar como é a escola literária mais de forma nova.”


Com a ideia de que as crianças estão lendo cada vez menos, Mônica acha ótimo reconhecer os novos recursos literários da atualidade. “A leitura não é só o livro escrito, eu acho que se a gente souber aproveitar o momento, o áudio livro que é muito legal, o blog”. Sendo otimista sobre os livros de youtubers, a professora diz que antes de julgar prefere ler o conteúdo e comprava pelo novo livro de kefera ser uma leitura ruim. “Ela teve a chance de fazer uma literatura para um público jovem que é ao contrário de uma Thalita Rebouças, que tem um leitor virtual. Eu olho pro livro dela e ela é muito escritora.”


Como dica para os jovens, a professora deixa uma mensagem: “ Quem lê conquista o mundo, quando você lê e entende sozinho , você não tem um professor do seu lado você consegue, através da leitura, isso é libertador, eu tento mostrar para eles a literatura como libertação”  


As preferências já estabelecidas por esse público são um desafio para os jovens autores menos conhecidos. Segundo Anelise Vaz, autora que já tem três trabalhos publicados em seu currículo, ainda é muito difícil se consolidar como autor no país e garantir seu espaço.


A autora Anelise Vaz, na última Bienal do Rio em setembro de 2017, em sessão de autógrafos.Foto: Acervo pessoal.


“Acho que a maior dificuldade é conquistar o seu espaço, conseguir construir seu ‘nome de autor’, conseguir publicar seu livro por alguma editora, que tem processos seletivos bem rigorosos, algumas vezes. O mercado literário é complicado! Existe capitalismo, existe panelinha. Então, cada conquista que temos é um passo enorme,” disse Anelise. A autora usava plataformas como Nyah Fanfiction e ainda hoje permanece no Wattpad publicando novos trabalhos.


A Autora Isabela Linhares no lançamento do seu primeiro livro, Linhas de Linhares, na Livraria Leitura, no ParkShopping Campo Grande.Foto: acervo pessoal.


Já a autora Isabela Linhares, que possui um blog desde 2013, que leva o mesmo nome do seu livro publicado em 2015, Linhas de Linhares, acredita que o verdadeiro desafio não está em escrever para o público jovem, mas em se destacar entre tantos textos compartilhados nas redes sociais, que geralmente trazem um conteúdo, em sua opinião, mais raso.


“O jovem de hoje sabe receber e buscar informação, desde cada vez mais cedo. É incrível perceber como quem nasceu em 2000, 2001..., já não tem a mesma cabeça que tinham as pessoas que hoje possuem a minha idade. Quando olho as estatísticas dos curtidores da minha página, é surpreendente que o maior número de leitores está concentrado entre 13 e 28 anos.” Disse Isabela. E a autora continua “Embora eu já tenha tentado me enveredar pelo Instagram e pelo Tumblr, estou acostumada a direcionar meu trabalho no Facebook, e é notável que, pelo menos por lá, alguns escritores lançam mão de conceitos já desgastados, frases feitas, textos que descrevem relacionamentos complexos de forma extremamente rasa... Alguns textos são bons, e igualmente parecidos. Então é difícil para um escritor que queira fazer algo diferente e que surpreenda dizer “ei, olha eu aqui, eu sou um pouco diferente do que toda essa montanha de frases de autoajuda”.   


Júlia e Diogo falam sobre o que gostam nas livrarias.


Para identificarmos a diferença entre o hábito de leitura dos jovens, procuramos dois com idades diferentes para contar sobre a sua história com os livros. Diogo Oliveira, 21 anos, estudante de matemática contou que o seu não agrado pela leitura vem da falta de interesse nos assuntos e não por falta de exemplo. “Eu sempre vi os meus pais lendo, mas eu nunca me interessei, pelo fato de não me chamar atenção a não ser gibis e quadrinhos”. O universitário ressalta que a escola pública que estudava incentivou a leitura através das provas, mas que mesmo assim não se aproximou dos livros, além dos familiares que tentavam lhe presentar com livros, mas que ele nunca gostava. Diogo assume frequentar livrarias por outro motivo. “Eu vou na livraria para vê bonecos, brinquedos e jogos de vídeo game e não para vê livros de história”


Uma história totalmente diferente nos conta Júlia Pacheco, 11 anos. A menina conta que sempre gostou de ler desde que aprendeu aos 5 anos. “Eu lia as placas na rua e o jornal de manhã pra minha irmã”. Julia conta que os s dois colégios que frequentou são voltados para a leitura infantil. “A minha escola tem livro paradidático e a antiga tinha o projeto de leitura para fazer em casa com os pais”. Quando a menina para pra contar quantos livros tem em sua estante ela se perde quando passa do 50. Por amar os livros tem como estilos prediletos os de fantasia e os teens, como Thalita Rebouças. “Tenho um recorde de leitura, durante as férias li um livro de 311 páginas em um dia”. Com o natal bem próximo a estudante do 6º ano, diz preferir livros de presente. “Eu gosto mais de lê do que brincar de boneca”.



Das prateleiras para as telas... E para novas prateleiras.



Desde o lançamento da adaptação cinematográfica de “Harry Potter e a Pedra Filosofial” em 2001, mais e mais livros do gênero de fantasia fantástica voltados para o público infanto-juvenil e adolescente ganharam adaptações sendo lançadas nos cinemas. Desde então, novas séries como Jogos Vorazes, Crepúsculo e Divergente levaram seu fãs ao cinema e lá, conquistaram novos para suas obras originais. Esses livros, que já eram considerados best sellers no exterior e tinham algum público no Brasil atraíam mais e mais novos leitores conforme eram lançados trailers da adaptação até o lançamento do filme.


Após assistir o filme, muitos adolescentes acabam se interessando pela história que originou aquela adaptação. É o caso dos irmãos Nathália e Gabriel Gonçalves, de 26 e 22 anos, respectivamente. Nathália cursa nutrição e já costumava ler livros infanto juvenis como os de J.K Rowling e mais recentemente Kiera Cass, mas Gabriel só criou o gosto pela leitura mais recentemente, aos 18 anos e após assistir a franquia Jogos Vorazes.


“Minha irmã procurava me incentivar a ler, até porque sempre tive dificuldade na escola com interpretação, mas eu tinha muita preguiça,” afirma Gabriel. “Eu não costumava entrar em livrarias, principalmente porque aqui em Campo Grande elas só começaram a aparecer quando eu tinha uns 17 anos. Os livros da minha irmã, ela comprava pela internet e nenhum me chamou atenção. Jogos Vorazes eu li os três, uns dois meses depois de assistir o filme.”



Jovens da Zona Oeste estão procurando mais as livrarias.


O público jovem, acreditem, é atualmente o mais presente dentro das livrarias. Em uma época em que os livros digitais com suas versões em e-book ganham cada vez mais espaço, os livros físicos ainda têm um núcleo jovem que procura. A gerente da Livraria Leitura do Park Shopping Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, Elinelia Rosa, conta que os jovens são sim um dos públicos mais assíduos nas livrarias, comparado há vinte anos onde isso não acontecia.


Elinelia diz que atualmente os livros de youtubers e os de fantasia como Harry Potter são os mais procurados para esse núcleo “agora o livro mais vendido, não é bem um livro é o do Felipe Neto, esse disparado atualmente  o meu melhor livro, e é para o público jovem o meu segundo livro que está vendendo muito agora é o Dan Brown com o livro Origens, e o Origens não é voltado para o público jovem”.


Com a época de maior venda da livraria chegando, a gerente relatou que a procura pela saga Harry Potter existe sempre e esse ano com lançamento de capa nova em comemoração aos 20 anos da saga, a procura tem sido ainda maior, principalmente por fãs e novos leitores.Elinelia diz que os livros de youtubers  diminuíram bastante a procura. “Ano passado nós tivemos um ‘boom’ dos youtubers, com os primeiros da Kefera e com o Rezendeevil, e foi aquela loucura. Esse ano sentimos uma queda muito grande com o da Kefera, mas também é outro estilo, porque é um romance e achamos que as vendas não corresponderam a venda dos outros dela, e com esse do Felipe, que é uma mistura de passatempo com livro está vendendo muito bem”       

Após a leitura teste seu conhecimento com leitura jovem:
https://pt.topquizz.com/quiz/O-quanto-voce-conhece-sobre-literatura-jovem-139661?key=ae1f73ebc8f94045683cdbfd6ef77de1 

Comentários

  1. Maravilhosa reportagem, tem tudo certinho: tem um bom conteúdo, está bem escrita. muito bem apurada, ótimos personagens e fontes. Adorei. Vocês estão de parabéns. Nota : 10

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