Para o trabalho no lar o incentivo é o amor

Donas de casa não recebem salário, alguns defensores da causa falam sobre essa possibilidade, mas nenhum projeto de lei foi criado até hoje.

A rotina é sempre a mesma. Os horários inflexíveis. A pontualidade nunca é desrespeitada. Essas são práticas comuns da vida de Sônia Maria, dona de casa.  Seus afazeres todos tem hora e dias cronometrados. Afinal, um atraso seu pode gerar o atraso da neta na escola, deixar a outra neta ou a sobrinha sair sem almoço. Mas disposição é o que não falta. As roupas estão sempre lavadas, a casa sem bagunça ou sujeira e além disso ela está sempre tentando agradar seus familiares fazendo o que cada um lhe pede. 

Como a de Sônia, assim também é a rotina de milhares de donas de casa.  O serviço que sugere flexibilidade, pelo fato de as mulheres estarem no conforto de seus lares, tem horários bem definidos. Isso porque a rotina de toda a família depende de suas organizações para realizar as tarefas domésticas.  Muitas vezes, se a mãe não acordar a tempo, os filhos vão para a escola sem tomar café da manhã.  É um trabalho do qual a família daquela dona de casa depende, mas muitas vezes não reconhece. A mãe de quatro filhos e dona de casa Vanessa Souza disse que apenas quem valoriza seu trabalho em casa é seu marido. Segundo ela, as pessoas acham que ser dina de casa é ficar deitada vendo televisão.

  Foi refletindo sobre a valorização que o trabalho de sua esposa merecia que o americano Steve Nelms resolveu calcular quanto sua esposa, que abandonou o trabalho para se dedicar a criação do primogênito do casal, deveria receber. Para fazer essa conta ele buscou saber sobre o faturamento de uma babá, e também de um profissional que cozinha, limpa a casa, lava e passa as roupas. Concluiu que o valor justo a ser pago é algo que gira em torno de R$19 mil mensais e R$228 mil anual.

Steve percebeu que não teria condições de pagar sua esposa e ainda teve convicção de que como ele a maioria dos maridos também não teria. Ele se impressionou com os valores.   Por isso, escreveu em seu blog pessoal um texto chamado "pais,  vocês não podem arcar com os custos de uma mãe que fica em casa".

Essa reflexão feita por Nelms e que deveria ser feita por todos que convivem com uma dona de casa importante no que diz respeito a incentivar a valorização dessas mulheres que se dedicam ao lar. Todavia, em termos econômicos não se trata de uma condição possível para o país.

Para o administrador Ronaldo Sobreira, como é uma tarefa que cada mulher exerce ao seu modo, necessitaria uma certa fiscalização caso o salário existisse de fato. Para ele essa alternativa só é funcional se partir de uma iniciativa privada, porque para a economia do país, se esse valor fosse pago pelo governo causaria grandes danos pelo fato existirem milhares de donas de casa no país. 

“Custeado pelo governo sim, esse salário representaria um retrocesso econômico. Caso o custeio venha de iniciativa privada ou pelo cônjuge não, pois haverá maior injeção de dinheiro na economia, pois para que isso acontece terá que ter toda uma tratativa legal com geração de impostos”, explica Ronaldo que é a favor do benefício apenas para a de iniciativa privada. Se a medida fosse governamental o administrador seria totalmente contra.
Para Simone Dias, técnica de contabilidade e mãe de Thyago de 13 anos, deve 
Haver um estudo para que fosse dado um salário simbólico para as mulheres que cuidam do lar, desde que o exercício de tal atividade fosse comprovado. 

“A maior parte das mulheres tem jornada dupla. A mulher contemporânea trabalha fora e acumula funções do lar”, diz Simone que acha justo o recebimento de uma remuneração pelas donas de casa.

Jornada dupla



A vida da assistente social Luciana Fonseca não se resume apenas as suas oito horas de trabalho formal. Ao chegar em casa é mãe, esposa, doméstica. O marido de Luciana a auxilia nas tarefas de casa, mas não são todos os homens que fazem isso. A assistente social só pode exercer jornada dupla porque sua sogra cuida de suas filhas. O trabalho fora para ela não é um luxo, mas a possibilidade de fazer com que suas filhas tenham uma vida mais confortável e uma educação de qualidade.
Em sua entrevista, Luciana nos contou sobre o que acha de um salário para donas de casa, sua experiência profissional, em casa e o que acha sobre as mulheres que são mães em tempo integral por escolha ou não. 
Vídeo Luciana



Troca que valeu a pena

“Educar exige um trabalho, exige uma abnegação sua. Você não pode mais fazer tudo o que você fazia antes porque agora você tem que dar exemplo. Não adianta só você falar se você não faz. Então muita gente não está disposta a isso”, é a opinião de Kamilli Aguiar que tomou a decisão de ser dona de casa e mãe em tempo integral.

Kamilli Aguiar é jornalista. Conciliava o trabalho com os cuidados do lar desde que casou. Entretanto, uma decisão mudou todo o cenário. Junto com seu marido, a jornalista resolveu que era hora de ser mãe. Kamilli já sabia que se dedicaria exclusivamente ao bebê que tivesse. Mas essa decisão foi fortalecida ao ver uma colega de classe, na época em que ainda cursava a graduação, chegar diversos dias chorando porque havia perdido momentos único de seu filho que hora estava na creche, hora sob os cuidados da avó.

Muito se discute atualmente sobre o lugar da mulher. Existem diversas correntes que afirmam que o lugar da mulher é onde ela quiser. Contudo, existem muitos homens e mulheres que não respeitam quando uma mulher decide que quer deixar o trabalho fora para cuidar dos filhos então terceirizar a educação deles e formação de seus caráteres. Não foi diferente do que aconteceu com Kamilli. Ela conta que chegou a romper relações de amizade com pessoas que a criticavam duramente por sua escolha e não a respeitavam. Para ela, ninguém é obrigado a concordar com as escolhas do outro, mas o respeito é fundamental.

A jornalista afirmou que mesmo que essa já fosse uma decisão tomada anteriormente à sua gravidez, não foi fácil, pois estava acostumada a trabalhar fora, ver gente e agora fica muito mais tempo em casa. Contudo, diz que trabalho não falta e é três vezes maior que o de antes. Mesmo com as consequências e criticas, Kamilli não se arrepende da sua decisão. Sua ideia inicial era ficar apenas os quatro primeiros anos de sua filha sem trabalhar. Hoje, passaram-se seis anos e ela ainda não pensa em voltar. Segundo ela, nenhum valor é capaz de pagar a possibilidade de estar junto de sua filha, Melissa, em todos os seus momentos. 
Direito ganhado

Kamilli Aguiar, como trabalhou fora alguns anos teve uma pequena contribuição para o INSS. Entretanto, existem mulheres que nunca tiveram um trabalho formal, sendo assim não tem nenhum tempo de contribuição. Recentemente foi dado a essas mulheres que têm essa defasagem com o INSS o direito de receber uma aposentadoria. O que é justo, afinal, mesmo com tanto trabalho, essas mulheres que dispõem seus tempos para cuidar de seus lares não recebem ao menos um salário por todo seu esforço diário. 
Por se dedicarem exclusivamente ao trabalho doméstico e não disporem de renda própria, as donas de casa se enquadram na legislação previdenciária como “segurado facultativo”. A advogada Beatriz Moraes explicou que para as mulheres que nunca trabalharam e contribuíram com a previdência, podem se aposentar, pois de acordo com a lei 12.470/2011, as mesmas pagariam uma alíquota diferenciada, com isso teriam direito aos benefícios da previdência social.

Esse benefício é pouco conhecido e funciona tanto para as mulheres quanto para os homens, já que atualmente é comum que um homem também possa assumir as responsabilidades do lar. O site Guia trabalhista traz informações completas sobre o tema e tabelas com o novo código de recolhimento do INSS. http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/inss-dona-de-casa.htm 




Para que esse benefício seja validado, é necessário cumprir algumas exigências. As pessoas que quiserem ter o direito da sua aposentadoria deverão contribuir com um percentual mensal de 5% em cima do valor do salário minuto em vigência de no mínimo até 15 anos. 
Existem outras formas de conseguir a aposentadoria podendo ser por invalidez ou por idade, que para as mulheres segue a faixa etária dos 60 anos e para os homens 65 anos de idade. Outros benéficos da providência social que as donas de casa também têm direito são: salário maternidade, auxílio doença, auxílio reclusão e pensão por morte.

Essa notícia alegrou a dona de casa Gracite Ribeiro, 58 anos. Ela contou que não conhecia seus direitos e ficou feliz em saber que também se enquadra nos requisitos mesmo não tendo contribuído. "Já estou quase na casa dos 60 e me deixa feliz sabe que poderei ter meu próprio dinheiro", ressaltou Gracite.






Diferença salarial

Não importa se estão em casa ou trabalhando fora há muito tempo é colocado em pauta a questão das mulheres terem salários inferiores aos homens. Ainda não há justificativa para tal desigualdade, entretanto há argumentos e teses acerca disto, que tentam justificar que as mulheres de certa forma apresentam inferioridades em relação aos homens em determinados cargos. Independentemente do nível de escolaridade do gênero, em todas as pesquisas feitas até hoje, comprovam que os homens ganham mais em todos os setores. 
Alguns alegam que os homens desempenham trabalhos mais braçais, outros dizem que as mulheres por terem o privilégio de engravidar podem causar mais despesas por conta do afastamento (licença maternidade) da empresa. 
Para a assistente contábil Roberta Silva, o trabalho das mulheres não acaba quando seu horário de expediente termina, pois, as mulheres além de desempenhar diversas funções ao mesmo tempo no trabalho, se dispõem a executar mais de uma tarefa dentro de casa. 
Ela ressalta que apesar dos homens executarem funções com maiores esforços físicos, as mulheres no geral, conseguem dar conta de mais de uma função dentro de uma empresa. 

Comentários

  1. Olá meninas,
    Gostei da reportagem, bem apurada, gostei do vídeo. A estrutura está ótima, mas as fotos ficaram sem legenda. Além disso, alguns errinhos devem ser corrigidos: primeiro parágrafo: "Seus afazeres todos têm hora e dias cronometrados." Melhor: "Com uma rotina atribulada, Sônia precisa fazer suas tarefas com base em um esquema cronometrado."
    "Não importa se estão em casa ou trabalhando fora há muito tempo é colocado em pauta a questão das mulheres terem salários inferiores aos homens." (Falta pontuação nessa frase), mas gostei muito das fontes e da estrutura. A matéria não está assinada. Precisa! Thaluan e Karen, certo? Bom, a nota de vocês ficou 9,0. Thaluan, você fez o trabalho do fact checking ficou com 10. Obrigada.

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