A Realidade das Categorias de Base
Brasil, celeiro de craques, campeão Olímpico em 2016. (Foto: Divulgação/Rio 2016)
Por: Jonathan Marinho e Raphael Reis, UCB.
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O Brasil é conhecido no meio futebolístico como “O País do Futebol”,
com talentos que brilham por todos os cantos do Mundo. Mas antes de todo o
glamour que envolve a carreira dos craques consagrados, existem processos duríssimos ainda na adolescência, quando se tem que abdicar de ser criança e começar a lutar pelo seu futuro. Meninos com responsabilidades de homens. Como no filme hollywoodiano,
nas categorias de base, os fracos também não têm vez. Em seguida contaremos as
histórias de três jovens. Um que tentou realizar seu sonho indo para a Itália
aos 14 anos, outro que rodou por clubes no Brasil e um jovem de 16 anos que
joga no Flamengo.
Bruno na Fiorentina. (Arquivo Pessoal) |
Bruno Loureiro,
25, saiu da Bahia em 2005, aos 12 anos, para fazer teste no Campo Grande, clube
da Zona Oeste do Rio de Janeiro. “Fomos em 18 para o Rio, mas só três ficaram.
Eu e mais dois”. Baiano, como ficou conhecido em sua passagem pelo Rio de
Janeiro, passou o segundo semestre de 2005 e todo o ano de 2006 atuando pelo
mirim do Campo Grande, onde jogou com o lateral Sidcley, que hoje é jogador do
Atlético-PR, e voltava para a Bahia nas férias. Em dezembro de 2006, novamente
de férias, Bruno voltou para casa, mas já sabendo que não mais voltaria ao
Campo Grande.
Através do empresário e ex-jogador Pedrinho Vincençote, que jogou em grandes clubes brasileiros e disputou a Copa do Mundo de 1982 pela Seleção Brasileira, Bruno foi para a Itália, aos 14 anos, jogar na Fiorentina,
um dos principais clubes do futebol italiano. Após 3 meses na Itália, Bruno
teve de voltar ao Brasil para regularizar seus documentos e, 1 mês depois, em
julho de 2007, retornou à Itália. Foi vice-campeão italiano da categoria,
jogando com o brasileiro Ryder Mattos, hoje atacante da Udinese. E era companheiro do meia Federico Bernardeschi, jogador da Juventus e da
Seleção Italiana, que era de uma categoria inferior.
Em 2008, Bruno deu sequência aos estudos, em uma escola
pública de Florença, mas ainda sentia os problemas de adaptação, da nova língua
e a saudade da família e dos amigos que ficaram no Brasil. “Foi muito difícil.
Foi muito difícil aprender a língua, suportar a saudade da família e dos
amigos. É muito difícil ser jogador de futebol. Muita gente pensa que é fácil,
mas não é, não. Tem que passar por muitos perrengues. Para chegar lá em cima, é
difícil demais. São muitas as dificuldades que se têm pelo caminho. Mas era meu
sonho, e por isso fiz de tudo para vencer as dificuldades”.
Em sua segunda temporada na Itália, Bruno passou pelo maior
medo de todos os atletas: uma lesão grave. Ele rompeu os ligamentos do joelho
esquerdo e foi obrigado a ficar 1 ano sem jogar. Recuperado após 1 ano, Bruno
voltou a jogar, mas não mais pela Fiorentina, havia sido emprestado ao Hellas
Verona. Em Verona, ele não apenas jogou com outro jogador importante, como também
morou com ele: Jorginho Frello, brasileiro naturalizado italiano, titular do
Napoli e da Seleção Italiana.
Após o Verona, Bruno esteve em outros clubes de divisões
inferiores, mas já como profissional. E depois de 5 anos na Itália, retornou ao
Brasil. Fez testes em clubes do Rio de Janeiro, tentou continuar no futebol,
mas acabou desistindo. Voltou para sua terra natal.
Pedro no Botafogo. (Arquivo Pessoal) |
Pedro Ribeiro,
28, jogava em escolinhas de futsal na Zona Oeste carioca. Morador de Bangu, se
destacava muito nos campeonatos de futsal, até que apareceu uma oportunidade
para fazer teste no futebol de campo do Madureira. Aprovado nos primeiros
testes, Pedrinho, como é conhecido pelos amigos, precisava ainda de um último
teste para ser federado pelo Madureira. Teste esse que aconteceria no mesmo dia
da prova de português do colégio. “Lembro como se fosse hoje. O teste seria
feito no mesmo horário da minha prova de português. Minha mãe não me deixou
faltar a essa prova e acabei perdendo o teste”.
Pedrinho continuou na escolinha de futsal até que, no ano
seguinte, ganhou uma bolsa de estudos integral para estudar e jogar futsal pelo
Colégio Realengo. Depois de um ano, ele foi aprovado no futebol de campo do
Botafogo, um dos maiores clubes da história do futebol brasileiro. Os horários
de treinos do botafogo eram no mesmo horário das aulas no Colégio Realengo. Mas,
dessa vez, Pedro não perdeu a oportunidade. Trocou de colégio. “Fiquei os dois
últimos anos do ensino médio conciliando o futsal pelo Colégio João Paulo,
futebol de campo pelo juvenil do Botafogo e empurrando os estudos com a barriga”.
Pedro terminou os estudos e continuou a jogar pelo Botafogo.
Procurado por empresários, não podia assinar com nenhum deles, por determinação
do clube. Pouco depois, por ironia do destino, as categorias de base do
Botafogo passaram a ser gerenciadas por um grupo de empresários. Os jogadores
que não tinham empresários, acabaram dispensados. Entre eles, Pedro.
Através do contato de um tio, ele foi para Brasília,
passar por um período de testes no Brasiliense. Lá, Pedro jogou ao lado do
famoso Jobson, jogador que depois fez sucesso no Botafogo e acabou jogando a carreira fora ao se envolver com drogas. Após um mês de testes no Brasiliense,
Pedro rumou para outro teste, ainda em Brasília. Assinou contrato amador
e ficou por cerca de dois meses no Legião, clube fundado em homenagem a Legião
Urbana, grupo de rock de Brasília, que fez muito sucesso nos anos 80.
Após passar numa peneira do Grêmio, ele foi para Porto
Alegre, para período de testes. Ao chegar para ser avaliado, não tinha quem o
avaliasse. A base do Grêmio estava em excursão. Pedro ficou treinando com o
time considerado B, enquanto esperava a volta da comissão técnica de base. O
período de teste de Pedro em Porto Alegre estava sendo bancado por um
empresário, que o manteria por 1 mês. Ao fim desse mês, ele ainda aguardava a
volta do time de base e foi avisado que isso só aconteceria na semana seguinte.
O empresário não aceitou pagar para manter Pedro por mais uma semana e o jovem não tinha condições de se manter. Voltou ao Rio de Janeiro.
Após outras desilusões em clubes de menor expressão, Pedro
quase rumou para a Grécia. Chegou a ter o contrato em mãos, mas como também
teria que arcar com os custos da viagem, acabou não indo e desistiu da carreira
no futebol.
Davi no Flamengo. (Arquivo Pessoal) |
Davi Aguiar, 16
anos, joga atualmente na categoria sub-16 do Flamengo. Em 2012, com apenas 11
anos, Davi jogava futebol na rua com os amigos, quando foi visto por um
empresário. Ao gostar do que viu, o empresário o abordou e pediu que seu pai entrasse em contato com ele, com a promessa de que o levaria para fazer
testes no Flamengo. Davi não deu importância e nem falou com o pai. Ele encontrou o empresário outras vezes na mesma rua e sempre falava que ia falar
com o pai, mas nunca falava. “Três anos depois, mais uma vez jogando na rua,
ele veio falar comigo de novo. Dessa vez falei com meu pai. Eles conversaram e
se entenderam. Combinaram que eu seria levado ao Flamengo no ano seguinte, em
2016”.
Em setembro de 2016, Davi foi ao Ninho do Urubu, centro de
treinamentos do Flamengo, para três semanas de testes. Passadas as três
semanas, Davi havia oscilado bastante, mas conseguiu agradar. Não o suficiente
para ficar. Davi ganhou outra oportunidade, mas só voltaria em 2017, após o
carnaval. Durante esse período até a nova oportunidade, Davi teve preparação física
e técnica do empresário. Voltou e não saiu mais. Davi já participou de treinos
dos profissionais, volante, marcou o meia argentino Dario Conca e treinou com
outros jogadores renomados.
Mas para quem pensa que tudo são flores, Davi sai de casa as
6 horas da manhã, pega dois ônibus para ir e mais dois para voltar. Volta para
casa na parte da tarde e estuda à noite. Quando tem jogo durante a semana, Davi
dificilmente consegue frequentar a escola. Mas segue em busca do sonho de se
tornar jogador de futebol.
No início do mês, Davi foi campeão do Torneio Guilherme Embry,
que equivale ao Campeonato Carioca da categoria.
Jorginho Frello, brasileiro que se naturalizou italiano e joga pela Seleção Italiana. (Foto: Claudio Villa/Getty Images) |
Jogadores que saíram do Brasil ainda nas Categorias de Base e jogaram por outras Seleções
No meio dos tantos garotos que rumam para o Velho Continente
e não conseguem “vingar”, tem também aqueles que dão tão certo, que se
naturalizam e passam a defender as cores de outro país. Alguns deles até em
Copas do Mundo. Entre os casos mais famosos de jogadores que saíram do Brasil
ainda nas categorias de base e jogaram/jogam por outras Seleções, temos:
Diego Costa, aos
18 anos, saiu do Barcelona de Ibiúna, Clube pequeno de São Paulo e foi para o
Braga, de Portugal. Hoje é jogador do Atlético de Madrid e da Seleção
Espanhola. Disputou uma Copa do Mundo e tem a possibilidade de disputar a
próxima Copa.
Jorginho Frello, saiu de
Santa Catarina aos 16 anos, onde jogava numa escolinha de empresários italianos
e foi levado por um dos empresários para o Hellas Verona, da Itália. Hoje é
jogador do Napoli e da Seleção Italiana.
Thiago Motta, aos
17 anos, saiu do Juventus, de São Paulo, para jogar no Barcelona, da Espanha.
Hoje defende o PSG, da França e acumula diversas convocações para a Seleção
Italiana. Disputou a Copa do Mundo de 2010.
Kevin Kurányi,
aos 15 anos, saiu do Serrano, do Rio de Janeiro, para jogar no Stuttgart, da
Alemanha. Kurányi brilhou com as camisas de Stuttgart e Schalke 04. Defendeu a Seleção Alemã por cerca de 6 anos.
Cacau, aos 18
anos, saiu do Nacional, de São Paulo, para jogar no Türk Gücü München, clube da
quinta divisão Alemã. Cacau brilhou com a camisa do Stuttgart e hoje está
aposentado. Defendeu a Seleção Alemã por cerca de 4 anos. Disputou a Copa do
Mundo de 2010
Eduardo da Silva,
aos 16 anos, após se destacar na Taça das Favelas, representando a Vila
Kennedy, foi para o Dinamo Zagreb, da Croácia. Hoje joga no Atlético-PR e
defendeu a Seleção Croata por cerca de 10 anos. Disputou a Copa do Mundo de
2014.
Pepe, aos 18
anos, saiu do Corinthians Alagoano e foi para o Marítimo, de Portugal. Jogou no
Real Madrid, da Espanha, por 10 anos e hoje é jogador do Besiktas, da Turquia e
da Seleção Portuguesa. Disputou as Copas do Mundo de 2010 e 2014. É nome quase
certo na próxima Copa.
Alex Santos, aos
16 anos, saiu do Grêmio Maringá, do Paraná e foi jogar no time escolar Meitoku
Gijuku, do Japão. Alex fez carreira no futebol japonês e disputou as Copas do
Mundo de 2002 e 2006, pela Seleção Japonesa.
Casos diferentes:
Rodrigo Moreno e Thiago Alcântara, saíram das categorias de base do Flamengo,
ainda no início da adolescência, e foram levados por seus pais, os ex-jogadores
Adalberto e Mazinho, para a Espanha. Rodrigo, para o Real Madrid e Thiago, para
o Barcelona. Hoje Rodrigo é jogador do Valencia e Thiago joga no Bayern de Munique.
Ambos são convocados frequentemente para a Seleção Espanhola. Rafinha
Alcântara, irmão mais novo de Thiago, também foi levado para o Barcelona, onde
joga até hoje, mas se decidiu por defender a Seleção Brasileira.
Próximo a fazer o caminho:
Léo Baptistão, aos 16 anos, saiu da Portuguesa Santista e foi para o Rayo Vallecano, da Espanha. Vem se destacando no Espanyol, clube de Barcelona. Deve ser convocado em breve para a Seleção Espanhola.
Heltton ao lado do empresário e ex-jogador Alberto. (Foto: Divulgação) |
Os “gatos” do futebol: Jogadores que falsificaram documentos
Durante a Taça São Paulo de Futebol Junior, no início desse
ano, Brendon Matheus, então zagueiro do Paulista, clube do interior de São
Paulo, teve sua farsa descoberta.
Brendon Matheus Lima dos Santos era, na verdade, Heltton
Matheus Cardoso Rodrigues, que tinha 22 anos, e não 19 anos, como constava no
documento de registro na Federação Paulista de Futebol.
O Paulista, clube de Brendon/Heltton, tinha acabado de
vencer o Batatais pela semifinal da Copinha e iria enfrentar o Corinthians na
final. Mas, graças a descoberta da irregularidade, o Paulista foi excluído da
competição e o Batatais enfrentou o Corinthians na final.
O caso de Brendon foi o último, mas está longe de ser o único caso de “gato” da história do futebol brasileiro.
Olá meninos, vamos lá:
ResponderExcluirEm relação às fontes obrigatórias, a matéria está muito boa. Vocês têm bons personagens, mas ficaram devendo no quesito fontes especializadas. Ninguém para falar sobre o emocional desses garotos, nenhum técnico, nenhuma família. As fotos também foram de internet, divulgação. Uma ou outra de arquivo pessoal e nenhuma produzida. A nota ficou em : 8,0