NOVAS VOZES NOVA MENTALIDADE
Redes Sociais e a Cultura da Convergência
por FÁBIO DAM | JÚLIA MATHURA
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Imagens
printadas dos vídeos: “O Fim
da Rede Globo” e “Brasil Livre de Intolerância”
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Dentre incontáveis
fatos que diariamente se desenrolam nas redes sociais, um, em especial, chamou
atenção na segunda semana de outubro de 2017 por evidenciar o processo de
mudança na forma como a Comunicação vem sendo empregada e como os consumidores
estão recebendo, filtrando e propagando informação. O youtuber Mateus
Gonçalves, de apenas 21 anos, viraliza na internet com o vídeo “O Fim da Rede Globo”
alcançando, por alto, arrisca ele, a marca de 100 mil compartilhamentos e 4 milhões
de visualizações, aproximadamente, no Facebook.
Mateus
começa o vídeo com exclamações: “A Rede Globo acabou! Chega! Pode fechar! Não
serve mais para nada!” E, logo depois, entra com os argumentos:
Segundo o influenciador digital, a motivação para a produção do vídeo partiu depois que artistas famosos da Rede Globo produziram e divulgaram, na página do Facebook 342 Artes, o vídeo“Brasil Livre de Intolerância” apoiando a performance “homem nu” que aconteceu no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, ao final do mês de setembro. Sobre isso, Mateus diz: “Sou youtuber, então a polêmica do momento era a Globo, e eu tinha uma mensagem pra dar”. [sic]. E diz mais: “Há muito tempo já tava cansado da manipulação que os veículos de influência fazem e queria mostrar que isso vai acabar conforme a internet cresce”[sic].Já foi o tempo que a Globo escolhia quem era o presidente. Antigamente, se você não sabe, a Globo escolhia quem era o presidente. A Globo podia pegar qualquer candidato e destruir a reputação dele. (...). Ela era o único meio de comunicação. Acontece que apareceu a internet. Acontece que o povo agora não depende mais da Rede Globo. (...). A internet é a discussão de verdade. (...). O povo está na internet. (...). Vocês não influenciam mais ninguém [sic].
Mateus revela, também,
que no dia da gravação do vídeo estava muito emotivo com o contexto delicado
cujos fatos se desembaraçavam. E, ao mostrar para os pais, eles, também, se
emocionaram. “Vi que a emoção passou pra eles na hora. Quando você tem esse
efeito você tem um vídeo viral” [sic], diz o youtuber. E complementa dizendo
que, com toda certeza, o objetivo do vídeo foi alcançado: “Não sabia que ia ser
tão grande. Tô convencido que vários artistas, inclusive a própria Fátima
Bernardes, viram o vídeo” [sic].
Não ficou apenas nisso.
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Reprodução
internet | As mídias digitais independentes deram a notícia
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Além do vídeo produzido
por artistas “a favor da arte contra a censura” como eles afirmam, o programa Fantástico do dia 8 de outubro produz duas
reportagens sobre “gênero”, “preconceito”, “intolerância” e “censura” que
provocam, no público, grande inflamação e revolta no dia seguinte à sua
exibição. Uma série de sites e blogs independentes noticiam, na
manhã do dia [9], segunda-feira, que a hashtag
#GloboLixo
está em primeiro lugar nos trending
topics do Twitter.
Segundo conteúdo da matéria do site denotícia independente Juntos Pelo Brasil (segundo print da esquerda
para a direita): “#Globolixo: Hastag Lidera no Top Trend Mundial”, a emissora
Rede Globo de Televisão não conseguiu, no programa, “impor suas posições
através de seus artistas” porque as pessoas, através da internet, reagiram com
muita força. E mais, relata a matéria: “Foram tantas citações e marcações que
bastava pôr Globo que aparecia #Globolixo”.
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Reprodução You
Tube / Influenciador digital
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Talvez a
crítica mais contundente e veemente ao jornalismo e à emissora partiu do pastor
evangélico e conferencista Silas Malafaia. Com grande influência na sociedade e
nas mídias sociais por suas posições firmes contra aborto, legalização das
drogas, homossexualidade, etc., em vídeo publicado, um dia após [9], a exibição
do programa Fantástico [8], o pastor critica pesado, em seu canal no You Tube, a abordagem jornalística das matérias: “Que vergonha! Que
vergonha! Aonde a Rede Globo chegou?”. E continua exclamando: “Cínicos!
Dissimulados! Maquiavélicos! Ninguém está falando de censura! É uma revolta da
sociedade. Estamos falando é de proteção das crianças garantido pela
Constituição, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e por Leis Ordinárias”.
Influenciadores Digitais
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Arquivo pessoal do jornalista
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Raony
Coronado que é jornalista e produtor de conteúdo pelo portal de mídia Comunique-se quando perguntado, em entrevista, se a internet desbancou a grande
mídia em relação à formação da opinião, ele evidencia que não. “Houve uma
migração. Os mesmo que estão em televisão, rádios, jornais ou revistas, também
estão na internet, sendo com blogs, colunas e redes sociais”, diz Coronado.
E sobre o que é ser um
influenciador digital, o jornalista acrescenta:
Os influenciadores digitais são pessoas com capacidade de mobilização social, que atuam como agentes de persuasão e transformação em seu segmento. No geral, estão presentes na internet, produzem conteúdos dos quais são dominantes e se utilizam de seus canais — seja Youtube, Instagram, Facebook, Twitter e outros — para conversarem com determinada audiência. São indivíduos que ganharam representatividade por diversos motivos e construíram ao longo do tempo uma rede de seguidores e fãs, que são por eles impactados ou influenciados na Web ou fora dela.
Partindo disso, dia 26 de julho de
2017 o portal de mídia Comunique-se realizou o
primeiro podcast da temporada. O tema da estreia do programa foi a seguinte
pergunta: “Influenciador é mídia?” A discussão fomentada pelos profissionais em comunicação
do portal teve, como objetivo, entender se o influenciador digital é, ou não é,
uma mídia. E para dissolverem as dúvidas que surgem a todo o momento com o
acelerado desenvolvimento tecnológico, o programa, com aproximadamente meia
hora de duração, contou com a participação de especialistas e convidados via
mídias sociais para debaterem o assunto.
Os convidados do programa afirmam que
uma cara nova está se formando no cenário digital com a grande demanda de
informação e diversas ferramentas tecnológicas novas. Antigos conceitos estão
ficando de lado para novas formas de interação tomarem conta do mercado.
Em entrevista ao programa, Bia Granja,
fundadora do YouPix e especialista em marketing de influência, reintera
que o influenciador digital (a pessoa) é,
sim, uma mídia (grifo nosso). E acrescenta dizendo que o produtor de
conteúdo, também, é, um veículo. Mais adiante na entrevista, Bia foca e destaca
a principal característica do influenciador digital. Ela diz: “O influenciador
é dono do próprio negócio. É o Roberto Marinho de si mesmo, digamos
assim”. E conclui, segundo sua análise,
que o influenciador digital é um organismo vivo tendo muito a oferecer através
de sua interação com o público.
Também em entrevista ao programa, o
americano Andrew Davis, autor do livro Brandscaping, concorda com Bia em dizer que o influenciador digital é uma mídia (grifo nosso). Ele diz:
“Alguns influenciadores, de fato, estão atuando como empresas de mídia e
deveriam ser tratados assim.” E complementa: “Eles são muito criativos na forma
de gerar receita, inclusive, as empresas de mídia poderiam aprender, bastante, com
eles”. E finaliza enaltecendo essa nova forma de configuração do mercado que se
apresenta na era tecnológica: “O talento sempre foi o fio condutor do negócio,
basta notar que as empresas e os jornais têm suas estrelas. Os Youtubers e os Instagrams são estrelas independentes que transformam seu talento
em algo especial”.
MAIS INFORMAÇÕES
Com esses conceitos bem definidos
sobre que é ser um influenciador, é possível rastrear e começar a ter uma ideia mais definida de tudo
que vem acontecendo nas mídias digitais. Perguntado sobre como enxerga esse
novo cenário, Mateus revela que há muito tempo as estrelas da TV estão sendo
deixadas de lado, o momento agora é para quem tem criatividade e sabe manipular
as novas mídias. “A internet tem um formato bem melhor que a TV, e quando todo mundo tiver
SmartTV com acesso à internet, a TV tradicional não vai ter audiência pra
bancar as superproduções de hoje” [sic], declara o youtuber.
Já o jornalista Raony Coronado concorda em parte com Mateus. Ele diz:
Certamente os canais online ganharam muito mais força. No entanto, televisão e rádio continuam sendo veículos fortíssimos e de grande audiência. O rádio pode ser considerado "antigo". Entretanto, sua programação é sempre atual, com imediatismo, trazendo informações em tempo real para quem está ocupado e não pode acessar um mobile enquanto dirige, por exemplo. Mas o crescimento da internet abriu muitas portas. Quem consegue ser criativo e tem o perfil de internet, pode se dar bem com um canal do Youtube ou um perfil no Instagram.
Era da Convergência
De acordo com Henry Jenkins, autor de
a Cultura da Convergência e muito conhecido
e comentado no meio acadêmico, essa nova forma de interação (que pôde ser
constatada e documentada, anteriormente, através de prints) permite “encontros” inesperados,
causando, como resultado, confusas conclusões que afligem mídias, produtores de
mídia, jornalistas, publicitários, ou melhor, afligem profissionais de
Comunicação, como um todo, por não se atentarem para esta nova realidade
cultural. Jenkins dá as boas-vindas: “Bem-vindo à cultura da convergência, onde
as velhas e as novas mídias colidem, onde mídia corporativa e mídia alternativa
se cruzam, onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem
de maneiras imprevisíveis”.
Michele Cruz Vieira, Dra.
em Comunicação e docente pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM),
em entrevista, relata que a interação do público com o veículo já não é mais
como antes, isto é, na era de massa os comentários ficavam restritos aos grupos
e não tinham a repercussão que hoje as mídias sociais dão às interações
interpessoais. “Com a internet você tem conhecimento sobre o que outros grupos
pensam, todos podem se manifestar e estes comentários ganham dimensões de
compartilhamento imprevisíveis”, argumenta Michele.
A ideia de convergência salta aos olhos na fala de Mateus no
vídeo “O Fim da Rede Globo”. Uma nova realidade cultural se apresenta ante o
processo de comunicação. E perguntada sobre que entende por convergência, a
docente revela uma informação que enriquece o tema. Ela relata que o processo
sempre existiu, não é algo novo:
A convergência existe mesmo antes da internet, como por exemplo, quando o jornalismo se transformou em uma atividade diária, em fins do século XIX, e fez convergência com a linguagem literária. Na era digital, a convergência é o encontro do institucional com o amador e o encontro também das plataformas de mídia, suas propriedades tecnológicas, e suas linguagens no mundo virtual.
Jenkins vai mais além. Ele percebe uma
mudança muito mais sofisticada e profunda do que, propriamente, uma mudança
tecnológica, apenas. Essa mudança ocorre nas consciências dos indivíduos. Ela
ocorre dentro de mentes em suas interações sociais, uns com os outros. A
convergência, segundo o autor, envolve uma transformação tanto na forma de
produzir quanto na forma de consumir os meios de comunicação.
Diversas forças, contudo, começaram a derrubar os muros que separam esses diferentes meios de comunicação. Novas tecnologias midiáticas permitiram que o mesmo conteúdo fluísse por vários canais diferentes e assume formas distintas no ponto de percepção (Livro Cultura da Convergência).
Olá meninos...segue a minha avaliação para a reportagem digital:
ResponderExcluirEstá bem escrita, com um conteúdo relevante, mas entrevista que é bom, somente uma especializada. Faltou apurar a reportagem, incluir um material multimídia. Muito material de pesquisa. Faltou apuração. Nota: 7.5